Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo tronco ou ramo na incógnita floresta... Onda, espumei, quebrando-me na aresta Do granito, antiquíssimo inimigo... Rugi, fera talvez, buscando abrigo Na caverna que ensombra urze e giesta; O, monstro primitivo, ergui a testa No limoso paúl, glauco pascigo... Hoje sou homem, e na sombra enorme Vejo, a meus pés, a escada multiforme, Que desce, em espirais, da imensidade... Interrogo o infinito e às vezes choro... Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro E aspiro unicamente à liberdade.
Antero de Quental
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